DIREITA E ESQUERDA!
Eu de esquerda me confesso e de direita me proclamo!
Tenho tanto direito a auto localizar-me no espaço político como qualquer outro cidadão, maior de 18 anos e na plena posse dos seus direitos cívicos e políticos, ainda que, não navegue no mar da pseudo-intelectual idade de que, apenas alguns, pretendem deter a exclusividade.
Sim, porque essa de alguns iluminados do nosso espaço político se intitularem de esquerda, depositando na dita todas as virtudes do Universo e atirando para a (direita) todos os pecados que, desde o primário Adão, adulteraram a humanidade, começa a fazer-me cócegas.
E, sinceramente, não gosto de cócegas deste género nem dos seus cocegantes.
Prefiro outras, pelo menos para mim, bem mais agradáveis!
E, pelos vistos, a maioria do Povo português também não gosta. E não gosta porque sabe muito bem que a solidez do seu futuro e da sua Pátria se não constrói com esta permanente dicotomia, divisória e inconsequente.
Este mesmo Povo, a que muitos insistem em querer continuar a passar atestados de menoridade mental, sabe bem que, ao longo da história, sobejam os exemplos do que a (esquerda/direita) podem ser capazes e que vão de Franco a Hitler ou de Mussolini a Estaline.
Por isso rejeita liminarmente esta visão dicotómica de direita/esquerda e muito mais os fundamentos com que a mesma é feita.
Foi por isso ainda que, em Março de 2005, preferiu Sócrates a Santana Lopes e, passados uns escassos nove meses, escolheu Cavaco Silva à primeira volta em detrimento dos quatro lídimos representantes das virtudes dessa tal esquerda.
Dizendo assim que não considera o cargo de Presidente da República propriedade exclusiva de nenhuma área política, como já se vinha insinuando.
Este Povo, ao qual muito me orgulho de pertencer, sabe escolher os seus líderes, não pelo rótulo, mas sim pelo conteúdo, que é, ao fim e ao cabo, a sua obra ou a capacidade de a fazerem e o comportamento que revelam no seu quotidiano.
Para ele a virtude não está nem na esquerda nem na direita, ela estará sempre na seriedade, na competência e na capacidade de trabalho dos respectivos dirigentes.
Por isso, eu de direita me confesso e de esquerda me proclamo.
Sim porque segundo a bitola desses tais iluminados eu poderei ser de esquerda porque grande parte da minha vida tem sido dedicada à defesa dos mais desfavorecidos; porque corporizei vários projectos de cariz social; porque distribuo comida aos sem abrigo, na noite de Lisboa; porque já encabecei greves gerais, etc… etc…
Porém, serei um perigoso direitista já que não aceito que se agrida a autoridade sem que o agressor seja punido severamente (alterando para isso o Código Penal); porque sou contra a liberalização das drogas; porque acho o casamento de homossexuais contra-natura; porque gosto imenso do Fado, do futebol e da beleza feminina; porque adoro um bom cozido à portuguesa com um bom vinho tinto; em suma porque sou patriota, amo Portugal mais que tudo e odeio tudo quanto alguns querem fazer para destruir as minhas raízes.
Mas também sou muito tolerante! E agora aqui fico sem saber se a tolerância será património da direita ou da esquerda.
Por vezes parece-me que se adaptará mais à esquerda. Mas logo a seguir lembro-me de promessas de emigração, de não participação em cerimónias oficiais, do receio de passar a não dormir descansado, da ameaça de golpe de estado...etc… Isto, claro está, só aconteceria caso Cavaco Silva fosse eleito. Concluo assim que a tolerância afinal não é de esquerda...Claro que também não é de direita!
A tolerância está no coração de cada um de nós para que a saibamos usar convenientemente e sem rancores.
Daí que eu não acredite que alguém emigre, que haja golpes de estado, ou até que alguém não durma descansado, apenas porque foi eleito Presidente da República, em 22 de Janeiro de 2006, o cidadão português Aníbal António Cavaco Silva, nascido em Boliqueime em 15 de Julho de 1939, a quem, suponho, ninguém negará o direito de se ter candidatado.
Por mim, e embora já tenha ouvido dizer que o homem até é de esquerda, garanto que não emigrarei, não receio golpes de estado e tenciono continuar a dormir descansado, já que a única coisa que me poderia tirar o sono seria a minha própria consciência e, essa, continua, felizmente, muito tranquila.
Fevº./2006
JPL