sábado, 23 de agosto de 2008

EMIGRAÇÃO! O regresso ao passado?

EMIGRAÇÃO! O regresso ao passado?

Na década de 60 foram muitos, os milhares de portugueses que demandaram o estrangeiro em procura de melhor vida.
Calcorrearam veredas e caminhos, subiram serras, acoitaram-se em caixas de camionetas de carga, comeram o pão que o diabo amassou, para chegarem aos seus destinos.
Destinos que lhes poderiam proporcionar os recursos que a pátria lhes negava e que tanta falta lhes faziam para sustento das suas mulheres e filhos.
A muitos dramas assisti, quando, então professor primário, dava aulas em Silvares, no concelho do Fundão.
Mulheres com os braços cheios de filhos procurando avidamente um sinal proveniente dos lados do correio, que lhes pudesse garantir que os seus homens estavam vivos, eram quadros do dia a dia.
Elas, entretanto, para além de cuidar dos filhos, amanhavam a horta e tratavam dos animais que os maridos, a custo e com lágrimas nos olhos haviam deixado para trás.
Abandonados à sua sorte, sem qualquer apoio e orientação, porque ao Estado, só lhe interessavam as suas remessas de dinheiro.
Foram duas décadas negras da nossa história, que desejaríamos não ver repetidas.
Mas nem sempre os nossos desejos se concretizam!
E estamos novamente assistir a um surto de emigração que nos deve começar e a envergonhar.
E não é apenas o aumento de 50% registado na emigração entre 2000 e 2006, mas também a exploração desumana a que muitos dos nossos compatriotas são sujeitos, quer em terras de Espanha ou da Holanda.
Hoje como ontem, o assunto da emigração e das chamadas comunidades portuguesas continua a não ser levado a sério.
Os nossos emigrantes continuam a ser totalmente esquecidos ou até tratados com troça.
De 1991 a 1995 fui deputado pelas comunidades portuguesas na Europa e tive oportunidade de viver intensamente alguns dos seus problemas.
Já nessa altura, tive oportunidade de constatar a indiferença com que os interesses dessas comunidades eram encarados pelo poder político.
Foi com grande persistência que consegui o aval, do então primeiro Ministro Prof. Cavaco Silva, para levar a RTP-Internacional a essas mesmas comunidades.
Mas valeu a pena!
A alegria com que foram recebidas as primeiras imagens da sua Pátria comoveu-me. Aprendi, com esta rica experiência, a compreender melhor as nossas comunidades.
Pelos vistos tudo continua na mesma senão pior. Só as remessas interessam ou só nas votações são lembradas.
Os nossos emigrantes merecem que a Pátria, que lhes negou uma vida digna, faça mais por eles!


JPL

Sem comentários: