Há quase 6 anos escrevi o que se segue. E que foi feito até hoje? Quase nada!
UNIÃO EUROPEIA – QUE FUTURO PARA PORTUGAL!
Se, por um lado, a participação de Portugal na União Europeia trouxe ao País melhorias inequívocas no bem-estar dos portugueses e na modernização de algumas empresas, também lhe colocou obrigações e desafios difíceis.
Durante anos fomos apenas vivendo à sombra da face risonha dessa moeda que a União Europeia nos proporcionou e esquecemos (ou fizeram-nos esquecer) a outra face dessa mesma moeda.
Os vários subsídios chegavam a um ritmo vertiginoso. Contudo, é duvidoso que uma parcela importante desses recursos, tenham sido convenientemente canalizados para uma correcta reconversão e modernização da nossa economia.
Bem pelo contrário, muitos dos nossos empresários, foram contagiados por uma doença crónica chamada “subsídio-dependencia”.
Por isso se foi instalando, entre nós, uma certa cultura de irresponsabilidade onde proliferam os direitos mas ninguém enxerga os deveres, onde a palavra solidariedade que, o povo português, tão bem tinha interiorizado, deu lugar ao egoísmo, ao desenrasque-se quem puder.
Assim. Mesmo com baixos salários, a nossa competitividade foi por água abaixo. Muitas empresas iniciaram processos de deslocalização para países de leste ou asiáticos, outras, pura e simplesmente faliram e, consequentemente, o desemprego aí está com taxas que começam a ser motivo de preocupação.
Com todo este cenário, a captação de novos investimentos, nomeadamente estrangeiros, tornou-se uma missão quase impossível.
Só que as moedas têm sempre duas faces e, agora, estamos confrontados com a outra face – a da exigência, a do profissionalismo e da responsabilização – da qual depende, em larga medida, o nosso futuro.
Efectivamente, com o alargamento da União Europeia a mais dez países, Portugal ficará, no quadro da mesma, a ser um país mais periférico por um lado, sendo certo que, também os fluxos comunitários tenderão a diminuir drasticamente ou ate a desaparecer.
È pois, neste contexto, que Portugal vai enfrentar um dos maiores desafios de sempre sem, contudo, ter uma estratégia que atenue as consequências negativas e, ao mesmo tempo, potencie as virtualidades do alargamento.
Os vários estudos disponíveis deviam mobilizar-nos a todos para vencermos este desafio, senão vejamos:
- Portugal é, segundo o Centre for Economic Policy Research, o único país da União Europeia que perde com o alargamento;
- os novos países, aparecerão a concorrer directamente em algumas fileiras de especialização portuguesa, com uma mão-de-obra mais habilitada, mais barata e com maior produtividade;
- a localização desses novos países, muito mais próximos dos grandes centros de consumo europeus, poderá constituir um elemento de dificuldade adicional para Portugal.
Parece-me pois pertinente e urgente a promoção de um grande debate interno sobre as grandes questões europeias, com empenhamento sério, de todos os responsáveis políticos, económicos, sociais, etc.
Portugal não pode deixar de saber, muito claramente, o que pretende obter, a médio e longo prazo, com a sua qualidade de membro da EU, consensualizando as linhas fundamentais da política comunitária com a sociedade civil. Não devemos confundir o interesse geral do Pais com as questões de política doméstica.
O Governo andou bem ao apresentar, em sede de Concertação Social, as linhas gerais para um Contrato Social para a Competitividade e Emprego.
É apenas um passo mas, o facto de a competitividade, a formação profissional e a inovação estarem a ser motivo de preocupação e debate por parte dos parceiros sociais é, por si só, motivo de alguma esperança.
O futuro está nas nossas mãos, saibamos construi-lo a tempo e as gerações futuras orgulhar-se-ão de nós, caso contrário, nunca nos perdoarão.
Inovar, produzir mais e melhor, terão de ser as nossas palavras de ordem para o futuro.
2003-10-13
José Pereira Lopes