Exmº. Senhor Presidente, Chefe, Comandante ouDirector da ASAE, que julgo serem a mesma pessoa.
Saiba V. Exª. que hoje decidi suspender as minhas infacundas reflexões para vir em socorro de uma melhor exequibilidade da mui nobre causa que a sua polícia, tão arreigadamente vem defendendo.
Embora reconheça que talvez nem a famigerada PIDE/DGS tenha conseguido impor tanta autoridade e inspirado tantos receios e temores como os seus homens do capuz e restantes acompanhantes, sei que, apesar de tudo, ainda continuam a existir muitos facínoras, que insistem em não cumprir a lei, que V.Exª., tão denodadamente, se esforça por fazer cumprir até à mais minúscula vírgola.
É por causa de gente desta que Portugal se encontra na cauda da Europa.
Faz V.Exª. muito bem em lhes cortar o pio, que o mesmo é dizer, encerrar-lhes os restaurantes, trancar-lhes os matadouros, selar-lhes as padarias, surripiar-lhes as contrafacções por essas feiras fora, destruir-lhes as capoeiras, as pocilgas ou similares, caçar-lhes as bolas (pelo menos as de berlim), partir-lhes os galheteiros(se necessário na cabeça), o saboreio horrivel de uma cabidela de galinha caseira (ainda se fosse do mato!), e por aí fora, podendo mesmo ir até ao encerramento compulsivo da própria habitação dos facínoras.
Mas o que me truxe hoje a V.Exª. foi o conhecimento, aliás constatação, de que esses violadores compulsivos da lei estão a estender os seus tentáculos tenebrosos e, até já chegaram ao meu prédio.
E eu não posso tolerar tamanha afronta a V.Exª. e ao seu combate apostólico, dentro do meu próprio prédio.
É isto que me leva hoje a colocar-me definitivamente do seu lado, neste combate sem tréguas que, se me permite agora, havemos de travar juntos, até que a voz nos doa ou as algemas se partam.
De que se tratará? Perguntará V. Exª!
Pois trata-se, nem mais nem menos, de um dos crimes mais hediondos, que a sua ASAE tanto reprime, e bem.
E aqui mesmo nas minhas barbas, no 9º. Esqº. mesmo por cima de mim, ou seja por cima do apartamento onde resido.
Isto é inadmissível, e , por isso, lhe resolvi escrever.
Não é que ontem, ao regressar de uma ida à no sótão, sem querer, espreitei pela frincha da porta da D. Gertrudes e, pasme-se, não é que a vi mexendo o tacho que estava sobre o fogão, com uma colher de pau!!
E pior ainda, é que tinha mais duas dessas perigosíssimas armas, enfiadas num púcaro, prontas certamente para novas infracções.
Senhor Presidente, Chefe, Comandante ou Director, de onde menos se espera é que elas vêm.
E eu que ainda hé dias comi um ensopado de borrego na casa da D. Gertrudes!
Certamente mexido com aquela famigerada colher de pau!
Só de pensar nisso sinto náuseas!
Não podemos consentir tamanha afronta, Senhor Presidente, senhor Comandante ou lá o que é!
Sugiro-lhe que tome medidas drásticas e que nunca poderão ser inferiores ao encerramento total da casa da D. Gertrudes. Há que perseguir e punir os prevaricadores, sem tibiezas.
E logo a D. Gertrudes, com aquela cara de santinha, quem tal diria!
Temos de nos manter em total vigilância, noite e dia.
E já agora, por falar em vigilância, eu não queria falar disto porque ele é uma joia de homem.
Mas o Sr. Acácio do 3º. Dtº., também vinha a chegar da terra e estava a dizer que amanhã ia comer uma rica cabidela de galinha caseira! Penso que também há ali algo de esquisito!
Aposto que já trazia o sangue da dita num qualquer taparuwer!
Louvado seja Deus!
Mas se é tão fácil cumprir a lei, porque é que esta gente insiste na transgressão?
Em vez de pão caseiro comam Bimbo!
Se têm hamburguer tão bom, porque hão-de insistir em cabidelas?
Se têm salsicha alemão tão boa e barata porque insistem no chouriço português cujo porco é morto sabe-se lá onde?
Porque hão-de insistir nos galheteiros se podem andar com doses individuais de azeite e vinagre no bolso?
Tem V.Exª. toda a razão quando ameaça encerrar metade dos restaurantes em Portugal!
Até já começo a ter dúvidas se os não deveria encerrar todos. Assim como assim, temos os espanhóis aqui tão perto!
Mas Senhor Director ou Senhor Inspector, a luta não se pode ficar por aqui! hà que começar não só a encerrar as habitações aos prevaricadores mas também a expô-los na praça pública para exemplo dos outros.
E para dar o exemplo, deverá V. Exª. começar por encerrar a casa da senhora sua esposa que, ao que me constou, também lá tem, se bem que escondidas, umas colheritas de pau.
Sempre com mão firme! E verá Sr. Comandante como a lei passará a ser cumprida.
Não haverá mais bolas de berlim, nem cabidelas, nem chouriços caseiros, nem pão saloio, nem galheteiros, nem torneiras que se abrem com as mãos, nem fornos de lenha, nem queijos artesanais, nem ensopados de borrego, nem cabrito no forno, nem cozido à portuguêsa, nem coleiras de pinhões, nem pirolitos, nem arroz de lebre, nem chocos à algarvia, nem entremeada na grelha ou frangos no espeto, nem sequer os coiratos, etc. etc...!
Teremos, assim, a nossa CULTURA, limpa destas mazelas que tanto a conspurcam.
Disponha deste seu admirador!
E não esqueça, ANO NOVO vida nova!
PS: O cigarrito no Casino não lhe ficou lá muito bem.
JPL
Nota: Escrito em 03 de Janeiro 2008